segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Espelho, espelho meu...


Seitas
(Qualquer semelhança não é mera coincidência...)

 Um amigo nos enviou o texto abaixo.
Dizem que foi escrito diante de um espelho...



"Cuidai que ninguém vos seduza" (Mt. 24,4)


A palavra seita vem do latim secta e significa cortada, separada. O estudo do Vaticano define seita como um "grupo religioso com uma concepção do mundo peculiar própria derivante, mas não idêntica, dos ensinamentos de uma das principais religiões do mundo". (p. 317).
O termo seita tem uma conotação pejorativa. Jamais os membros de um grupo religioso admitem ser considerados sectários. Comumente eles julgam os verdadeiros e únicos fiéis continuadores de uma religião que reputam verdadeira.
As seitas parecem oferecer direção e orientação através de chefes carismáticos. A pessoa do mestre, do chefe, do líder espiritual, desempenha um papel importante na coesão dos discípulos. Ao mesmo tempo, não existe apenas submissão, mas abandono emocional, e sempre uma devoção quase histérica a um chefe espiritual influente (messias, profeta, guru)". (Osservatore Romano, estudo citado, p. 318).
É evidente que nesse perfil há muitos traços que indicam desequilíbrio. Não é raro que as seitas se constituam em torno de um homem de tendências paranóicas que se julga incumbido por Deus de salvar a Igreja ou a humanidade.
Ora, as seitas ofereciam a esses desestruturados, carentes de relacionamento social, necessitados de apoio e proteção, um ambiente acolhedor, uma solidariedade fraterna, uma possibilidade de integração num todo maior em que o eu de cada indivíduo, enfraquecido pela perda de estruturas antigas, se dissolvia num nós mais poderoso e protetor.. Essa integração do indivíduo desestruturado num grupo maior era mais fácil quando, à perda de estrutura, se acrescera a ruína econômica.
Eles viam o mundo de modo completamente negativo e sonhavam com uma transformação que o tornaria róseo.
Ora, as seitas vinham satisfazer completamente essas almas, pois pintavam o mundo atual como demoníaco e prometiam para breve, após uma crise apocalíptica, o surgimento do Reino de Deus.
A agregação torna-se ainda mais fácil pelo fato de que a seita se apresenta como grupo de eleitos por Deus. Do anonimato se é transferido para a eleição. Isto gera em todo elemento uma idéia de sua própria superioridade. Os membros da seita são os eleitos que têm o direito de desprezar, de condenar e que sonham eliminar, às vezes até fisicamente, os precitos que não aderem às suas crenças, ou que lhes fazem oposição.
Ódio e desprezo particulares e mais profundos do que para os mundanos são reservados pelos sectários aos "traidores" da seita, aos "apóstatas" que, tendo um dia compreendido a "missão do grupo" na História, o abandonaram depois e até passaram a combatê-lo. Para eles se reservam maldições e excomunhões muito especiais.
Uma conseqüência dessa idéia da seita como Igreja dos Eleitos é a colocação do sectário acima da lei comum, seja essa lei moral ou os padrões comuns de comportamento. Para o sectário, o "bem da causa" permite tudo. O fim justifica os meios. É evidente que essa liberdade moral auto-outorgada é um forte fator de aliciamento para todos os que só encontram entraves e obstáculos na sociedade em que vivem. Já vimos que certos beguinhos julgavam que podiam roubar porque no Reino de Deus não haveria mais propriedade e por antecipação eles já estariam dispensados de respeitar a propriedade alheia.
É a esse povo desorientado que as seitas oferecem respostas simplificadoras e fáceis. A convicção com que postulam suas idéias – mesmo as mais absurdas – aparece aos olhos dos inseguros como um fator de defesa e de segurança doutrinária.
Em terra de subjetivistas, quem aparenta ter uma certeza objetiva, aparece como dono de toda a verdade. Daí o tom de superioridade doutrinária arrogante e insolente que o sectário assume ao falar de temas que ignora quase completamente. Daí se julgar dispensado de estudar. Daí seu preconceito contra todo estudo científico. Ele dispensa a ciência. O céu o ilumina. Deus lhe fala pela boca de seu profeta. Ele ignora e acha dispensável o estudo da História porque crê fazer a História, como instrumento da providência.
Em conseqüência dessas posições, o aliciamento sectário recorre mais ao entusiasmo que à razão. Ele visa a fanatizar e não a convencer.
2. ISOLAMENTO - Isolamento e lavagem cerebral
Os sectários procuram separar os seus novos elementos do meio em que vivem. Tiram-nos do seio de suas famílias. Impedem que freqüentem escolas. Levam-nos a trabalhar nos ambientes da seita ou para a seita. Proíbem que estudem, que leiam, que se informem, para que percam qualquer referencial, qualquer ponto de orientação fora da seita. Ao mesmo tempo, bombardeiam os aliciados com uma "doutrinação" maciça. Entre aspas porque se trata menos de uma exposição de princípio que de uma exploração das carências e esperanças do aliciado.
Procuram-se também explorar complexos de culpa do aliciado insistindo sobre seu "antigo comportamento" desviado, "como o uso da droga, os erros em matéria sexual" (Cfr. doc. cit. nº 2.2), mostrando que só na seita ele conseguirá se manter no bom caminho. Para ele, fora da seita não há salvação. Sair da seita será para ele o pecado supremo.

"As seitas impõem com freqüência as suas próprias maneiras de pensar, de sentir e de se comportar, em nítido contraste com o método da Igreja, que requer pleno conhecimento e consenso responsável" (2.2).
De fato, muitas seitas impõem trajes particulares, maneiras de agir exóticas, modos de caminhar, de pentear, de rir, de falar, de rezar, que distinguem seu adepto da maioria dos fiéis, que o separam do povo e fazem dele literalmente um separado, um sectário. Desse modo, o comportamento do sectário tem algo de autômato. Sente-se que ele é teleguiado em suas respostas, em suas atitudes e até em seus movimentos.
É por isto que toda seita tem, em sua raiz, uma figura humana, enquanto a verdadeira Fé só pode ter Deus em sua origem primeira.
Como se parecem as heresias! Como são parecidos os hereges!

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